quinta-feira, maio 10, 2007

O meu pai

O meu pai é um homem relativamente novo, bonito, charmoso. Foi e ainda é um óptimo pai, sempre atencioso, preocupado mas autoritário quando era preciso. Lembro-me de gostar de levar as minhas colegas lá a casa para almoçar porque ele recebia-as tão bem e era sempre muito elogiado. Quando via que eu chegava acompanhada tentava logo fazer algo para nos agradar. Elas gostavam imenso dele e ele delas. Mesmo passado anos ele lembra-se de algumas e por vezes pergunta-me como estão. Elas igual.
E eu gostava e gosto muito disso. Gostava que gostassem do meu pai.
Mas agora o meu pai é avô e nós, as filhas, passamos para segundo plano. Não que isso importe realmente, não, mas a idade também não é a mesma e a paciência vai-se esgotando. Principalmente para quem vive com ele. Claro que eu não estando lá a minha irmã acaba por ser a vítima da falta de paciência e calma que sempre o caracterizaram.
Mas não há nenhum mal nisso. Eu acho. Faz parte.
O mal, a meu ver, é ele andar muito chato. Mesmo! Eu sei que é amor, que é paixão, que é loucura o sentimento que ele nutre pela minha filha, mas por vezes é massacre.
Ele pede-lhe um beijo e ela dá. Ele pede outro e ela diz-lhe que já deu (!!). Ele insiste e ela resmunga. Ele volta a insistir e desta vez agarra-lhe a cara. Ela resmunga ainda mais. Ele ri-se mas tenta novamente agarrando-a, encostando a cara dele para ela lhe dar um beijo. Ela prega-lhe uma lambada... assim. Eu não gosto que ela faça isso, mas neste caso, e em muitos outros idênticos, ela tem razão. Porque ele não consegue parar. E não mede as consequências de determinados gestos. Como quando vamos para o carro ele vem sempre, sempre comigo. Geralmente ela vai a pé, de mão dada ou não. Nunca com ele. Ele vai atrás dela e dá-lhe pontapés. Mas os pontapés por vezes saem com força, por vezes até magoam. E ela tem que lhe dar um berro ou mesmo eu.
Como da outra vez que ela queria ligar o DVD (que já o sabe fazer) e ele deu-lhe um berro, alto e um pouco brusco para não mexer. Mas dessa vez ela chorou e ele ficou triste.
Mas eu até o entendo. Agora faz-lhe falta alguém que o elogie, uma pessoa nova que goste dele. Porque ele precisa disso. É um homem carente e as mulheres dele (eu, a minha irmã e a minha mãe) agora não têm tempo para lhe dar mimo. E então ele "vinga-se" na pequena.
Ainda hoje, até me ri da cara que ele fez, ele tinha falado em ir dar uma volta com a Inês e com a minha mãe. Não estava nada combinado até porque é muito incerto o tempo que ela vai dormir. Apareceu lá a casa uma amiguinha dela e ele ficou logo fulo, a falar entre dentes, eu já sabia, é sempre a mesma coisa, já não vai dar para ir a lado nenhum... Eu vim-me embora mas ele continuou com esta ladainha.
Coitado. Precisa de ser amado e isso está-nos a passar ao lado. Entretanto vai amando da forma que ele sabe fazer.

1 comentário:

CarlaS0fia disse...

Ui, o meu pai então descobriu as cócegas da Mafalda e não a larga!

No outro dia tb foi cómico, ia eu a falar com ele sobre um assunto até importante, e ele nitidamente não ouviu nada do que eu disse. Ia só a olhar para a Mafalda a assobiar-lhe.. Enfim.. Avós!

Os meus tinham tantos netos q eu n me importava nada que tivessem sido chatos assim para mim tb! ;)