Conversas com ela...

Ontem à noite, os 3 no sofá. Ela de pé encostada a um almofadão a olhar para o tecto.
- Que estás a fazer?
- A piscari.
- Tás a piscar? A quê?
- À lhuz…

23 Meses...

e ainda não acredito que serão dois anos daqui a um mês!

De manhã

Gosto tanto de a ver acordar.

Esticar-se por cima ou por baixo da roupa da cama, espreguiçar-se e abrir os olhos devagarinho, até se habituar à luz que entra pela janela que já abri.

Esfrega os olhos e espreita rindo-se para mim.

Pergunta pelo pai, que já não está.

Mudo-lhe a fralda e começa na brincadeira.

Pergunta pelo leitinho, que já aqueci e que está no meu quarto à espera dela.

Gosta de o beber encostada à minha almofada a olhar para mim. Gosto de a ter ali.

Acorda quase sempre bem disposta.

Gosto dela

Gosto dela ponto.

Não preciso que seja precoce nem extraordinária.
Não me interessa se gatinhou e andou mais cedo que o normal, ou pelo contrário, mais tarde.

Se é linda de morrer ou linda só para mim.
Se diz mais palavras que os outros. Ou menos. Ou as mesmas.

Gosto dela ponto.

Com os defeitozinhos que já lhe vou adivinhando, as birras e os momentos menos felizes.
Gosto dela mesmo quando digo que é brutinha ou teimosa.

Gosto dela assim. Teimosa e brutinha.
Gosto dela e não preciso de lhe enaltecer as qualidades e as belezas.

Gosto dela com os pés “fedorentos”.

Gosto dela ponto. Espero que ela também gosto de mim assim.

De cima a baixo, de qualidades a defeitos.

Do / Para o Pai...

Eu sei que hoje o dia não começou nada bem. Mas tu também sabes que ela tem acordado com uma telha de todo o tamanho. O facto de te ter mandado embora e de ter chamado por mim, foi jogada nossa. O combinado era eu ir ter com ela para lhe dizer que hoje é o teu dia (são todos, claro. Pelo menos é assim que eu vejo). Ela depois deu-te um beijinho grande de paabéns.

Depois contaste-me que se chatearam. Que ela não parava de escovar os dentes. Que tiveste que lhe tirar a escova e que ela amuou.

Mas não entendeste que ela queria dar-te beijinhos fresquinhos e com sabor a morango.

Que ela (e eu) se divertiu imenso a pintar aquele quadro para te oferecer e que não o conseguiu esconder até hoje.

É por ti que ela pergunta de manhã quando a vou acordar, é por ti que ela pergunta à hora do almoço, é por ti que ela pergunta quando a vou buscar ao final da tarde, é por ti que ela pergunta quando chegamos a casa. É para ti que ela corre quando ouve a porta a abrir, é a ti que ela dá aquele chi tão bom quando te vê.

Que o amor também é isto.

E como no dia de hoje festejamos a triplicar aqui fica: Querida Mãe Feliz Aniversário, Querido Pai Um Dia muito Feliz e papá da Inês Amamos-te muito.

Bichos

A minha filha está na fase das descobertas. Tudo o que é novo para ele tem que ser examinado ao pormenor, de preferência na mão dela bem perto dos olhos, para que nada lhe escape.

Ela sabe e nós dizemos-lhe sempre, que tudo o que cai ao chão é lixo, ou é caca e tem que ser lavado. NUNCA se pode colocar na boca. Ela cumpre isso mas quando cai uma bolachita gostosa, ela apanha-a e tumba... boca. Se for a chupeta liz-nos sempre que tem lixo porque caiu ao chão.

Ontem descobriu daqueles bichinhos (não faço ideia do nome) que se enrolam neles. Deve-lhe ter achado piada quando ele se encolheu. Quer dizer, não faço ideia do que lhe passou pela cabeça. Só sei, porque me contaram, que ela pegou nele, todo enroladinho e foi mostrar à minha mãe. Por acaso, e repito, por acaso, ela não o meteu à boca.

Passemos à frente...

Depois disto se ter passado a minha querida mãezinha deve ter-lhe dito que não se pega em bichos, que eles são feios e tal e coisa e calcou o dito...

A minha filha é muito inteligente!

Pelos vistos descobriu logo depois uma abelha. Estava no chão. A Inês calcou-a para a matar, tal como viu a avó a fazer. Era uma abelha.

Ela não morreu à primeira. Ela corre, pega no chinelo da avó e desata a martelar em cima da bicha (detesto abelhas. Chega-lhe filha!). Tanto martelou que a dita morreu, claro.

Tanto martelou que a colou à arma...

Constatações

Normalmente à mesa tento-lhe puxar as mangas para cima porque ela coloca as mãos dentro do prato e a roupa fica num estado um bocado p'ró porquito.

Ela não gosta e puxa-as imediatamente para baixo.

Por vezes a dormir a manga do pijama foge para cima. Ela (a dormir) puxa-a para baixo.

Eu constato que a minha filha não gosta de andar de mangas arregaçadas.

Eu gosto muito.

E lembro-me de uma história, era eu ainda muito novita, e fui com a minha mãe comprar uma camisa para mim. Experimentei umas quantas e mal as vestia puxava logo as mangas. Algumas não ficavam bem e eu optei pela que ficava melhor de mangas arregaçadas.

P.s.: neste momento estou a fazê-lo!

Chupeta

Ontem à noite estávamos os 3 a brincar no sofá.

Ela ia atirando a chupeta ao pai, pegava novamante nela para a voltar a atirar.

O pai perguntou se era para deitar fora. Ela disse que sim. Ele fez de conta qua a deitou. Ela não ligou nenhuma. Eu guardei-a no meu bolso e sabia que ela ma ia pedir na hora de deitar.

Chegou a hora da caminha e fomos as 2. Quer dizer, as 2 e o "pretinho". Lá nos deitámos, uma mãozita em cima de mim e a outra a abraçar o boneco. Ali fiquei uns minutos e nada de chupeta. Nem sequer perguntou e adormeceu. Sem birras, sem choros, lentamente.

Durante a noite ouvi-a chamar por mim. Chamou apenas uma vez. Não costumo ir logo. Dou-lhe tempo. Não voltou a chamar.

Hoje de manhã fui ao quarto dela. Dormia profundamente. Na boquita um pendente azul, a maravilhosa chupeta que eu deixei em cima da cama e que ela pegou quando eu não apareci.

"A tropa manda desenrascar".

Asneiras...

Chego a casa e ela vem a correr receber-me. Não me dá um beijo.

Olha para mim e diz-me: mãe aneiras!

- Fizeste asneiras? Ora conta lá!

- O même no pêto! Hum. Ó cheiia!

- Chegaste creme ao preto. Cheira muito bem.

O J. contou-me que ela pegou no creme dela e que o abriu. Chega ao pé dele e diz-lhe para cheirar. Passado uns minutos chama por ele e diz-lhe asneiras!Ele quando vai ver o que aconteceu vê o boneco "pretinho" quase branco. Ela só lhe dizia para p cheirar...

Medos

Quando vivia na casa dos meus pais era costume deixar a chave na porta quando uma de nós saía. Saídas nocturnas. Quando eu chegava primeiro e vinha naqueles dias medricas pensava sempre que estava alguém em casa, que tinham entrado e iam roubar. O medo era tanto que ia espreitar a todas as divisões e até debaixo das camas!

Nunca estava ninguém, claro, mas reconheço que deixar a chave na porta era bastante arriscado.

Ontem à noite só estávamos as duas em casa. Brincamos, cantamos, dançamos. Tinha uma roupita para lavar à mão e ela andava entretida. Vesti-lhe o pijama, dei-lhe o leite e deitei-a. Deitei-me com ela. Pouco tempo depois ela dormia. Eu fiquei ali a gozar o momento, a olhar para aquela carinha fofa, a fazer-lhe mimos.

De repente ouço uma garrafa a cair... o som parecia vir de dentro de casa. Cães a ladrar. Anda alguém aqui, pensei. Levanto-me muito devagar, pego na roupa lavada, numa faca (??) e desço à garagem. Tinha deixado a luz acesa mas já nem me lembrava disso e já estava a fazer filmes. Está alguém cá dentro e até acendeu a luz...

Desci. A garagem vazia. Vi em todo o lado. Estava tudo fechado.

Voltei a subir. Estatelei-me no sofá à espera do J. De repente outra garrafa a cair! Não estou tolinha. Está alguém cá dentro. Fiquei cheia de medo mas deixei-me estar. Entretanto chega o J. e relato-lhe o sucedido. Ele riu-se e disse que eu sou doida.

Hoje de manhã na porta da cozinha vi uma sombra preta, escura. Abri a porta e era um gato. E o saco do lixo todo espalhado. E uma garrafa tinha rolado as escadas todas!

Soltas

Agora as frases dela são:

- Péia MÃE!

- Olha MÃE!

- Vês MÃE!

- Já tá MÃE!

- Anda MÃE!

Eu acho fantástico esta terminação. Em qualquer frase, em qualquer assunto termina SEMPRE com mãe!

Comecei a não a deixar adormecer com a mão na minha boca. Vamos para a cama e ela tenta quase que imediatamente metê-la na minha boca. Eu digo-lhe que não. Que não pode porque a boca tem porcaria e cheira mal. Ela não volta a tentar mas vai mexendo na minha cara, rondando muito levemente a minha boca. (gosto quando ela passa com as costas das mãos muito devagar...).

É raro ela adormecer com o J. mas quando acontece ele deixa-a meter as mãozinhas. São poucas vezes e ele faz-lhe o gostinho.

Esta noite ela acordou. A chupeta tinha caído e ela gosta de adormecer acompanhada. E chamou pelo PAI. Ele foi ao quarto dela e ela voltou a adormecer.

De manhã ele pergunta-me se ela já não mete as mãos na minha boca. Eu digo-lhe que não. A constatação do dia: então ela chamou o PAI porque ele deixa...

22 Meses

És uma pessoa. Uma pessoa inteira, pequenina, que anda, pensa, fala sozinha.

Já sabes bem o que queres. Zangas-te quando não consegues alcançar algo e já sabes pedir ajuda.

Decoras e repetes tudo. Fazes muitas perguntas.

Começas a saber brincar sozinha embora não por muito tempo. Ver-te com as tuas coisas, na tua vida é uma diversão. Gostas muito de pegar em coisas a sério (adoras pegar nas embalagens de leite(??)).

Olho para ti. Divirto-me e comovo-me. Já és uma menina.

Tens um riso fácil. Um riso aberto, de alma lavada. És uma criança feliz, disso não tenho dúvidas.

Invade-me um sentimento estranho. Somos nós que temos que te educar, ajudar-te a crescer. E este trabalho é bastante árduo e difícil. Doce e compensador, muitas vezes adivinhado no riso e no choro, mas é um trabalho.

Fazer-te pedir desculpa, dizer obrigado, pedir licença, ensinar-te a adormecer sozinha, dizer que sim e dizer que não.

Esperamos estar a fazer tudo bem. Sabemos estar a fazer o nosso melhor.