Quando vivia na casa dos meus pais era costume deixar a chave na porta quando uma de nós saía. Saídas nocturnas. Quando eu chegava primeiro e vinha naqueles dias medricas pensava sempre que estava alguém em casa, que tinham entrado e iam roubar. O medo era tanto que ia espreitar a todas as divisões e até debaixo das camas!
Nunca estava ninguém, claro, mas reconheço que deixar a chave na porta era bastante arriscado. Ontem à noite só estávamos as duas em casa. Brincamos, cantamos, dançamos. Tinha uma roupita para lavar à mão e ela andava entretida. Vesti-lhe o pijama, dei-lhe o leite e deitei-a. Deitei-me com ela. Pouco tempo depois ela dormia. Eu fiquei ali a gozar o momento, a olhar para aquela carinha fofa, a fazer-lhe mimos.
De repente ouço uma garrafa a cair... o som parecia vir de dentro de casa. Cães a ladrar. Anda alguém aqui, pensei. Levanto-me muito devagar, pego na roupa lavada, numa faca (??) e desço à garagem. Tinha deixado a luz acesa mas já nem me lembrava disso e já estava a fazer filmes. Está alguém cá dentro e até acendeu a luz...
Desci. A garagem vazia. Vi em todo o lado. Estava tudo fechado.
Voltei a subir. Estatelei-me no sofá à espera do J. De repente outra garrafa a cair! Não estou tolinha. Está alguém cá dentro. Fiquei cheia de medo mas deixei-me estar. Entretanto chega o J. e relato-lhe o sucedido. Ele riu-se e disse que eu sou doida. Hoje de manhã na porta da cozinha vi uma sombra preta, escura. Abri a porta e era um gato. E o saco do lixo todo espalhado. E uma garrafa tinha rolado as escadas todas!